A comunidade médica que trabalha com endometriose
vê com apreensão a notícia de que uma figura dentre as celebridades internacionais
vem a público noticiar que decidiu por uma histerectomia como forma de conter o
sofrimento causado por uma endometriose. A notícia em si impacta porque diz
respeito a uma jovem de 31 anos e que está diante de um duro veredicto de
esterilidade. Nas entrelinhas da notícia estanque, entretanto, há de se
analisar alguns aspectos da doença.
A endometriose atinge mulheres jovens e as
estatísticas apontam que a maioria delas sofre por até 10 anos até conquistar
um diagnóstico definitivo. As queixas, em sua maioria, são de fortes dores, às
vezes, incapacitantes, tirando essas mulheres de suas atividades rotineiras,
como estudos, trabalho e família.
A população de risco é jovem porque na raiz da
doença está a presença do hormônio estrogênio, encontrado em elevado nível
entre a maioria das mulheres jovens. Esse hormônio vem dos ovários e tem
funções como a de regular a menstruação, controlar a ovulação e preparar o
útero para a gravidez.
“Mesmo sem o útero, a mulher continua a produzir
estrogênio. Portanto, com base nos estudos científicos que permeiam esta
doença, podemos garantir que ela está relacionada ao estímulo do hormônio
estrogênio, que vem dos ovários. Para ser mais clara, a retirada do útero não
seria a solução para vencer a endometriose”, observa a Profa. Dra. Helizabet
Salomão, que faz parte da equipe de especialistas da Clínica Ayrosa Ribeiro, em
São Paulo.
Para a professora, que é chefe do setor de
Endoscopia Ginecológica e Endometriose da Santa Casa de São Paulo, a
retirada de órgãos do aparelho reprodutor feminino não é a primeira opção. “A
histerectomia, retirada do útero, quando bem indicada, deve estar associada ao
tratamento cirúrgico completo da endometriose com remoção dos focos da doença
em outras localizações. A retirada dos ovários, por causa do estrogênio, em uma
mulher jovem, na faixa dos 20 ou 30 anos, seria como antecipar a menopausa, o
que causaria uma série de outras complicações em sua saúde “, conclui.
As notícias relacionadas à endometriose da jovem
atriz e que suscitaram em novas abordagens da imprensa internacional, indicando
que a retirada de útero seria a “cura” da doença estão sendo interpretadas
erroneamente, tanto entre jornalistas quanto em relação às expressões das
mulheres que têm buscado um caminho de cura para a doença. “Queremos realmente
fazer um alerta às mulheres, para que não se deixem influenciar por episódios
como o da atriz Lena Dunhan. A medicina não sabe precisar quais seriam as
causas da endometriose, mas pode afirmar categoricamente que há muitas etapas
de tratamento antes de um procedimento tão radical”, finaliza a professora.
Profa.
Dra. Helizabet Salomão - Coordena uma equipe
multidisciplinar especializada na Clínica Ayroza Ribeiro, juntamente com Prof.
Dr. Paulo Augusto Ayroza Galvão Ribeiro. É professora assistente da Faculdade
de Ciências médicas da Santa Casa de São Paulo. Atualmente é chefe do
setor de Endoscopia Ginecológica e Endometriose da Santa Casa de São Paulo e
professora da Pós graduação nesta mesma instituição. Dedica-se à Ginecologia
Minimamente Invasiva com interesse especial à Videolaparoscopia e
Videohisteroscopia. É coordenadora da Ginecologia do Núcleo Avançado de
Endoscopia Ginecológica (NAVEG), que realiza cursos de treinamento em sutura
laparoscópica, simpósio de Anatomia laparoscópica e Treinamento de Laparoscopia
em cadáver. Participa de estudos que investigam a interferência de diversos
fatores biomoleculares na gênese e na progressão da endometriose, os danos
psicológicos e sexuais causados pela doença, bem como os efeitos do tratamento
da endometriose na qualidade de vida das mulheres portadoras da doença.
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