Recente estudo americano traz
números assustadores dos estragos da Síndrome Alcoólica Fetal
Em 2016, a Câmara Municipal de
São Paulo aprovou a Lei 16.563, de autoria do vereador Gilberto Natalini (PV),
que dispõe sobre diretrizes para a conscientização da Síndrome Alcoólica Fetal.
A Lei foi produto de esforços da
comunidade médica, particularmente de especialistas da Sociedade de Pediatria
de São Paulo (SPSP) que constataram o altíssimo índice de desinformação entre
as gestantes consumidoras de bebidas alcoólicas, sobre o efeito desta droga no
feto.
Aliás, já há comprovação
científica de que a exposição pré-natal a qualquer tipo e quantidade de bebida
alcoólica pode acarretar problemas graves e irreversíveis ao bebê. Eles podem
revelar-se logo ao nascimento ou mais tardiamente e perpetuam-se pelo resto da
vida. A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) apresenta diversas manifestações, desde
malformações congênitas faciais, neurológicas, cardíacas e renais, mas as
alterações comportamentais estão sempre presentes.
O objetivo da legislação é
combater a desinformação, possibilitando que as futuras mães saibam os riscos a
que estão expondo seus bebês. Ocorre que a lei não vem sendo aplicada, portanto
não gera os efeitos esperados.
Sendo a SAF um grave problema de
saúde pública, a Câmara acaba de encaminhar ao secretário municipal de Saúde,
Wilson Pollara, Ofício nº 46 /2018, solicitando medidas para o cumprimento
urgente da normativa.
Novo estudo americano traz
resultados assustadores
Recente estudo divulgado nos Estados Unidos, com cerca de 14 mil crianças
filhas de mães que beberam durante a gravidez, traz resultados assustadores; e
já está mudando os protocolos de ação dos médicos.
As crianças de San Diego e outras três cidades americanas foram acompanhadas
durante anos e suas mães entrevistadas. Deste grupo, somente duas tinham
diagnóstico inicial de Síndrome Alcoólica Fetal. No entanto, após a pesquisa,
concluiu-se que 222 eram portadoras da SAF.
Os médicos dos Estados Unidos já
estão orientando as mães a não ingerir uma só gota de álcool, seja de qual
bebida for, não apenas durante a gestação, mas a partir do momento em que
decidem engravidar.
Não há dose de segura, conforme
tem destacado constantemente a Sociedade de Pediatria de São Paulo. O álcool
atravessa a placenta e isso pode gerar transtornos irreversíveis, dos mais
graves a situações como atrasos de desenvolvimento, de aprendizado, entre
outros.
“Bebês com SAF podem ter
alterações bastantes características na face, as chamadas dismorfias faciais.
Além disso, em alguns quadros ocorre baixo peso ao nascer devido à restrição de
crescimento intrauterino, e o comprometimento do sistema nervoso central. Essas
características são altamente sugestivas para o diagnóstico no período
neonatal”, comenta Claudio Barsanti, presidente da SPSP.
No decorrer do desenvolvimento
infantil, o dismorfismo facial atenua-se, o que dificulta o diagnóstico tardio.
Permanece o retardo mental (QI médio varia de 60 a 70), problemas motores, de
aprendizagem (principalmente matemática), memória, fala, transtorno de déficit
de atenção e hiperatividade, entre outros. Adolescentes e adultos demonstram
problemas de saúde mental em 95% dos casos, como pendências com a lei (60%);
comportamento sexual inadequado (52%) e dificuldades com o emprego (70%).
Sobre a SAF
A SAF contabiliza, mundialmente,
de 1 a 3 casos por 1000 nascidos vivos. No Brasil não há dados oficiais do que
ocorre de norte a sul sobre a afecção; entretanto, existem números de universos
específicos.
Para ter uma ideia, no Hospital
Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha, um estudo com 2 mil
puérperas e seus filhos apontou que 33% bebiam mesmo esperando um bebê. O mais
grave: 22% consumiram álcool até o dia de dar à luz.
“É fundamental ressaltar que o
melhor caminho é realmente a prevenção” completa a Dra. Conceição Aparecida de
Mattos Ségre, do Grupo de Prevenção dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto
e no Recém-Nascido da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). “Não há qualquer
comprovação de uma quantidade segura de bebida alcoólica que proteja a criança
de qualquer risco. Neste caso, a gestante ou a mulher que pretende engravidar
deve optar por tolerância zero à bebida alcoólica”.
Características
O conjunto de efeitos decorrentes
do consumo de álcool, em qualquer dosagem ou período da gravidez, é chamado de
“espectro de distúrbios fetais relacionados ao álcool”, que inclui a SAF. A
frequência dessas implicações varia conforme etnia, genética e até mesmo a
quantidade ingerida. Isso não significa que todos os bebês expostos serão
afetados, mas a probabilidade é alta.
Campanha SPSP
A Sociedade de Pediatria de São
Paulo, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Pediatria, mantém a campanha
permanente #gravidezsemalcool visando conscientizar as futuras mamães sobre o
risco da ingestão de qualquer quantidade de álcool durante a gestação.
A iniciativa estimula o combate à Síndrome Alcoólica Fetal
(SAF). Tem apoio institucional da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do
Estado de São Paulo (SOGESP), contando ainda como parceiras a Academia
Brasileira de Neurologia, Associação Paulista de Medicina, Associação
Brasileira das Mulheres Médicas, Marjan Farma e Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), além da Secretaria de
Estado da Saúde de São Paulo.
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