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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Qual a diferença entre preguiça, cansaço e estafa? Qual a diferença entre preguiça, cansaço e estafa?



Na correria do dia a dia, muitas pessoas se deparam com uma extensa quantidade de afazeres para dar conta. É trabalho, filhos, casa e, ainda, ter tempo para a vida social. E com esse excesso de atividades, muitas vezes, surge a sensação de que algo não está bem: indisposição e desânimo, falta de vontade para realizar as tarefas. Isso tudo, no fim das contas, não se sabe se é preguiça, cansaço ou estafa. Pensando em esclarecer essa dúvida, a especialista em Saúde Coletiva e professora do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade UNIVERITAS/UNG, Maíra Rosa Apostolico, explica a diferença.


Qual a diferença entre preguiça, cansaço e estafa?

A preguiça relaciona-se com a pouca disposição ou lentidão para o trabalho; cansaço representa a fadiga gerada pelo trabalho; e a estafa é colocada como sinônimo de cansaço. Estes são os usos populares dos termos, embora do ponto de vista de saúde, podem ter uma compreensão diferente.

A preguiça não é considerada uma patologia ou estado de saúde, mas um estado de disposição para a atividade, apontada muitas vezes como limite que antecede o desempenho de atividades físicas ou mentais e adoção de novos hábitos. O cansaço por si só é também um estado de disposição pessoal embora seja posterior à atividade. A estafa, sim, está relacionada a um estado de saúde, associado ou não a outras patologias físicas, e que pode chegar ao comprometimento do desempenho de atividades cotidianas das pessoas. Um conceito que vem sendo bastante difundido é o de Burnout ou Síndrome de Burnout, considerada uma reação de estresse e se manifesta como uma exaustão física e emocional, sentimento de frustração e fracasso, relacionado com o ambiente de trabalho.


Por que é tão difícil identificar a diferença entre eles?

A dificuldade maior está em determinar os limites entre um e outro, já que os três termos se relacionam com a disposição do indivíduo para suas atividades.

 Entretanto, devemos observar o grau de comprometimento no desempenho dessas atividades para determinar a diferenciação. Importante ressaltar, que cada indivíduo tem respostas próprias aos acontecimentos da vida, à rotina de trabalho, aos sucessos e desafios do dia a dia. Portanto, o que pode ser pouco limitante para um, pode ser muito para outros.


O que desencadeia essas sensações?

Na atualidade, as relações sociais têm se modificado muito. Há diversos tipos de estressores presentes no nosso dia a dia e que provocam diferentes reações nos indivíduos. As pessoas apresentam flutuações de afeto que são inerentes das relações humanas. Entretanto, algumas pessoas persistem em quadros chamados depressivos, caracterizados pela menor disposição frente às demandas e acontecimentos. Há também as causas relacionadas à atividade laboral. Já se sabe que algumas profissões demandam mais recursos emocionais e físicos dos trabalhadores, impondo-lhes uma carga maior de estressores. E ainda, não se pode afastar causas físicas e orgânicas para estes sintomas, que podem ter diferentes origens.


Como cada um influencia no desempenho físico e mental?

É difícil traçar um modelo ou um padrão, pois cada pessoa responde de uma maneira muito própria e constrói mecanismos de superação, também, muito particulares. O comprometimento pode ser desde um simples desinteresse até a incapacidade para desempenhar atividades comuns da vida cotidiana, ou específicas do trabalho. O importante é o indivíduo avaliar o seu próprio contexto de vida, suas necessidades e de que forma elas estão comprometidas.

 Mas é extremamente relevante observar os sinais que o corpo e a mente apontam: se o corpo diz que algo não vai bem, talvez seja preciso modificar hábitos, horários, rotinas para respeitar os próprios limites. Atualmente, há um interesse muito grande em medicalizar tudo, inclusive sentimentos, sofrimentos cotidianos, estados de espírito e o próprio cansaço, sem se observar de fato o que está provocando este quadro. Procurar saber o que está nos deixando doentes. Isso nos chama a atenção para o desrespeito aos nossos limites e responsabilização dos indivíduos por um modo de vida que nem sempre condiz com a necessidade ou a realidade.


A urgência que a sociedade de hoje exige e a rotina atarefada podem ser considerados os principais causadores de tudo isso?

As elevadas exigências no mundo do trabalho cada vez mais competitivo; a individualidade valorizada acima do interesse coletivo; a exposição ao trânsito, à violência, às dificuldades econômicas; a falta de tempo; mas, sobretudo, a frustração gerada nos sujeitos pela não satisfação de necessidades, muitas vezes fabricadas pela lógica do consumo excessivo e o status que o "ter" tem representado para as pessoas podem ser algumas das causas. Se por um lado, a maioria da população responde aos desafios de forma positiva, superando e construindo formas de se adaptar, outras pessoas transformam essas frustrações em sintomas físicos e mentais, caminhando para a fadiga e até para a depressão. Importante lembrar que esse fenômeno afeta a todos, independentemente de idade, sexo, condição social, embora as formas de satisfação das necessidades e frustrações sejam distintas a depender dos recursos pessoais, sociais e econômicos que as pessoas possuem.


Ter preguiça é algo comum e saudável? Se sim, o quanto pode ser benéfico tirar um dia inteiro para "curtir uma preguiça"?

Não se trata de dizer que é saudável ou não. Também depende de que perspectiva se interpreta o termo preguiça. Na perspectiva do mundo atual, produtivo, ininterrupto, pode-se dizer que é uma coisa ruim. Por outro lado, quando se analisa o contexto e as cobranças sociais excessivas a que os indivíduos estão sujeitos, o "momento de preguiça" é muitas vezes, de lazer, de desfrute com a família, de descanso. Vivemos hoje, em uma lógica de produção e consumo que nem sempre admite que o sujeito "relaxe" ou aproveite momentos menos acelerados ou intensos. É como se o tempo todo as pessoas tivessem que produzir algo material e sentem-se culpadas ao agirem diferente. Nos esquecemos que momentos de descontração também podem significar uma oportunidade de criatividade e imaginação. Nesta perspectiva, o "dia de curtir a preguiça" pode ser muito benéfico.


Cansaço excessivo pode ser sinal de doença? Se sim, qual ou quais seriam essas enfermidades?

Pode sim. Há diversas doenças que tem como manifestação clínica o cansaço, como distúrbios hormonais, cardiovasculares e metabólicos. Uma avaliação criteriosa do estado de saúde, incluindo avaliação nutricional e física são fundamentais para diferenciar o cansaço proveniente da sobrecarga do cansaço como sintoma de doença. Entretanto, insisto no ponto de que a rotina deve ser igualmente analisada, buscando-se identificar não só os estressores biológicos, mas sociais também. É importante que antes de medicalizar ou querer dar nome de doença ao cansaço, o contexto de vida seja considerado e reformulado.


Quando é necessário procurar um profissional para saber a causa de tanto desânimo e se isso já se tornou algo prejudicial para a saúde?

Sempre que as chamadas flutuações de afeto forem persistentes e limitarem o desempenho das atividades cotidianas das pessoas, sua causa deve ser investigada. Manter os exames de saúde periódicos em dia é fundamental para um diagnóstico precoce de qualquer quadro mais grave.


Como fazer para combater cada um desses três problemas?

O que precisamos fazer é aprender a interpretar os sinais que o nosso corpo nos transmite, entendendo quando é tempo de reformular a vida, naquilo que é possível reformular. Ignorar tais sinais fará com que haja comprometimentos físicos e mentais, agravando e transformando o cansaço em fadiga crônica, em crises de estresse e outros quadros mais graves. Falamos muito da atividade laboral, mas não podemos esquecer do trabalho doméstico não remunerado, que também é uma atividade causadora de sobrecarga, muito negligenciada, pouco reconhecida e que afeta em geral, as mulheres. Portanto, rever o modo de vida, dentro do possível, dedicar-se a uma atividade laboral que também satisfaça preferências pessoais, elencar prioridades na rotina diária, ter uma rotina de horários e hábitos, dividir tarefas domésticas entre os membros da família, manter uma alimentação saudável, rica e variada, praticar atividades físicas, ter momentos de lazer sozinho, com a família e com amigos, entre tantas outras práticas. Enfim, ocupar-se não só das obrigações, mas também de atividades prazerosas. Atividades de voluntariado têm sido associadas à satisfação individual e coletiva, motivando as pessoas e gerando sentimentos de pertença, reconhecimento, capacidade e satisfação.





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