Poucos temas são tão polêmicos quanto as férias para
altos executivos. Aquela imagem do profissional que jamais relaxa, que não
consegue desfrutar de nem sequer um minuto de tranquilidade ao lado dos amigos
e da família já virou até filmes – comédias ou tragicomédias, é claro – e
coachs, psicólogos, médicos, entre outros inúmeros profissionais, sempre vêm a
público para enfatizar a importância de todas as pessoas terem períodos de
descanso em suas vidas profissionais.
A questão é tão valorizada que é possível identificar
perfis bem distintos que os executivos assumem em relação às férias. Existe,
por exemplo, o perfil dos que jamais descansam. Esses são os que nunca tiram
férias, trabalham também nos feriados e até nos finais de semana. Seus
liderados costumam reclamar dessa postura, afinal, ninguém atua sozinho e essa
atitude exige que a equipe esteja de prontidão o tempo todo – ou seja, além de
não descansar nunca, esse líder atrapalha muitas férias, feriados e finais de
semanas de outras pessoas. Há, ainda, o executivo que trabalha arduamente, mas,
que desaparece nas férias. Simplesmente, desliga o celular e não lê e-mails e,
com isso, coloca a equipe em pânico, já que várias ações dependem de suas
decisões e, com essa ausência total, o trabalho para. E, atualmente, existem os
executivos que, de maneira mais preparada, conseguem descansar pontualmente, de
forma planejada – e é justamente a maneira que eu vejo como a mais apropriada
para o líder atual.
Primeiramente, como líder, percebi que, nas empresas
pelas quais passei, em ramos diferentes, sempre havia momentos cruciais de cada
projeto, nos quais era impossível tirar férias ou mesmo me ausentar nas emendas
de feriado. Nestes momentos, nada mais me restava fazer, além de me dedicar
totalmente ao trabalho. Porém, também havia momentos mais tranquilos, nos quais
eu podia estender esses feriados e até finais de semana, dedicando à minha
família um pouco mais de atenção – porque em casa eu sou apenas o papai e o
esposo, e minha família me enxerga de maneira completamente diferente. Também é
nesses momentos de maior calmaria que programo minhas férias, sempre mais
curtas e nas quais mantenho algum contato com a empresa, realizando até, se
preciso, reuniões à distância, porque uma das belezas da tecnologia atual é nos
permitir estar “presentes”, de qualquer lugar do planeta.
Agindo desta maneira, percebo o quanto é necessário
descansar. É na ausência física do líder que se percebe como está o preparo da
equipe, como todos trabalham sem sua presença. Também são nesses momentos que
ocorrem muitos insights, que podem promover mudanças ou ações positivas no
futuro. Eu, por exemplo, tenho insights nos momentos mais improváveis e,
normalmente, eles acontecem justamente quando estou mais relaxado... de repente
uma boa ideia aparece. Isso já aconteceu várias vezes!
E a percepção da importancia desta pausa aconteceu assim,
como um insight: eu voltando de férias, engajado, com energia renovada, para
acelerar meus projetos e apoiar minha equipe me dei conta de quanto tinha sido
importante e quanto eu precisava daquele break (e como a decisão de tirar
férias me deixava angustiado por estar fora do escritório). Acredito que cada
um, encontrando seu ponto de equilíbrio, pode se beneficiar de momentos de
lazer também em benefício do próprio trabalho.
Marcelo Tertuliano - Administrador de
Empresas, com 22 anos de experiência na função financeira, dos quais, 15 anos
em posições de liderança. Atualmente está à frente da área financeira de uma
grande mineradora em Moçambique. É um estudioso do comportamento empresarial
mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário