É importante promover a conscientização da
população sobre essa doença neurológica degenerativa
Nesta quinta-feira,
21 de setembro, é comemorado o Dia Mundial do Alzheimer. A data,
instituída pela Organização Mundial de Saúde (OMS), visa promover a
conscientização da população sobre esta doença neurológica que provoca a
degeneração e morte dos neurônios, ou seja, as células do nosso cérebro.
Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer
(Abraz), o mal atinge cerca de 1,2 milhão de habitantes no país e é a principal
causa de demência em pessoas com 60 anos ou mais. No mundo todo, a estimativa é
que esse número seja de 35,6 milhões de portadores. Em razão do envelhecimento
da população global, em 2030, esses números podem atingir aproximadamente 66
milhões de pessoas.
Geralmente, os primeiros sinais do Alzheimer
costumam ser alterações de memória. “Esquecimento de fatos mais recentes
acontece, assim como dificuldade de fixar novas informações. Pode haver
alterações de personalidade, que, no início, são sutis e incluir apatia e
irritabilidade”, explica Rafael Brandes Lourenço, especialista
em psicogeriatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da USP e psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Lenta e progressivamente, surgem várias
dificuldades. Desempenhar atividades cotidianas, situar-se temporal e
espacialmente, compreender textos e fazer cálculos são algumas delas, o que
impacta a rotina e, por exemplo, o uso do dinheiro e o pagamento de contas. A
pessoa pode torna-se incapaz de reconhecer familiares e amigos, manter uma
conversa e, em fases posteriores, até de cuidar de si mesma.
“As causas do Alzheimer não são completamente
conhecidas; uma somatória de fatores genéticos e ambientais, incluindo o estilo
e qualidade de vida contribuem para a sua manifestação”, afirma o
psicogeriatra. “Um exemplo são os fatores que contribuem para aterosclerose no
cérebro, ou seja, dislpidemias, tabagismo, sedentarismo, hipertensão arterial
sistêmica e diabetes melitus tipo II. As alterações dos vasos no cérebro fazem
com que substâncias tóxicas relacionadas à doença, como o betaamiloide e a proteína
tau, permaneçam no cérebro, sem ser retiradas pela circulação, o que auxilia
para a doença se desenvolver.”
Para Brandes Lourenço, esquecer de um compromisso,
um nome de um objeto pode acontecer com todo mundo. “Só que, quando isso se
torna frequente e progressivo e compromete a vida da pessoa, já passou da hora
de procurar um médico.” Ele salienta: “É importante lembrar que a fase de
demência começa quando passa a ocorrer alterações na funcionalidade da pessoa,
quando ela não consegue mais fazer tudo o que realizava antes, por impacto das
funções mentais. A fase em que há somente perda de memória, ainda sem prejuízo
funcional, é chamada de comprometimento cognitivo leve. Gostaríamos que a
maioria dos pacientes chegasse ao nosso consultório nesta fase, o que,
infelizmente, não é a regra”.
O diagnóstico é clínico. “Além da história contada pela família e um
exame físico, é necessário fazer uma avaliação das funções cognitivas da
pessoa, como atenção, orientação, memória, linguagem, cálculo, abstração e
funções executivas e visuoespaciais, levando em consideração a escolaridade da
pessoa. “Solicitamos exames laboratoriais e de imagem, como tomografia e
ressonância magnética, que colaboram para o diagnóstico e também para o
descarte de outras causas clínicas de perdas de memória e de demência”, pontua
o especialista.
A cura para o Alzheimer ainda não foi descoberta. Mas há medicamentos
que ajudam a estabilizar ou retardar sua progressão. Sua administração deve ser
feita sob rigorosa prescrição e acompanhamento médico, porque “incluem efeitos
colaterais que devem ser monitorados, assim como a resposta clínica”.
“Um estilo de vida saudável pode ser um fator de proteção contra a
doença”, destaca Rafael Brandes Lourenço. “Uma alimentação balanceada, rica em
ômega 3, aliada à prática de atividades físicas e à manutenção de uma vida
social e intelectual ativa, auxilia uma pessoa estar menos suscetível à
doença.” Ele ainda afirma que o tratamento das condições como hipertensão,
diabetes e colesterol alto também são importantes. “Tudo isso devido à
participação da aterosclerose.”
COMO CUIDAR DO PACIENTE COM ALZHEIMER
Não é uma tarefa fácil proporcionar o atendimento adequado e dar carinho
e atenção ao paciente com Alzheimer. Independente de a pessoa continuar no
ambiente familiar ou em uma clínica especializada, algumas dicas básicas podem
ajudar na rotina de cuidados:
- Portar um cartão de identificação – A pessoa deve andar com um cartão
com nome, endereço, telefones de contatos próximos -, principalmente quando vai
a locais públicos ou não usuais;
- Autocuidar-se – O portador precisa ser estimulado a cuidar de si
mesmo, mesmo que as atividades levem tempo para serem realizadas. Deixar o
paciente escolher sua roupa é um bom exemplo de medida que colabora para a
manutenção da autonomia;
- Raciocinar – Propor exercícios para utilização da memória,
compreensão, cálculos, entre outros, devem fazer parte da convivência;
- Utilizar agenda – O uso de um caderno para registrar atividades a
serem desenvolvidas diariamente pode auxiliar muito nas fases iniciais da
doença;
- Usar fraldas ou absorventes – no caso de incontinência urinária ou
fecal, a utilização de fraldas descartáveis ou absorventes ajuda na higiene e
bem-estar da pessoa.
Dr. Rafael Brandes Lourenço – é
psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Psicogeriatra e
médico do sono pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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