Saber
diferenciar uma dor de cabeça episódica de uma crônica
pode
ser fator determinante na busca por tratamento
Entender a enxaqueca pode
evitar dores de cabeça. Quanto mais sabemos (e entendemos) sobre uma
determinada doença ou síndrome, melhores serão as nossas ações preventivas, a
busca por um diagnóstico correto e, quando for o caso, avaliar o melhor
tratamento.
Pra começo de conversa,
dor de cabeça não é normal. Existem mais de 150 tipos de dor de cabeça (¹),
sendo a enxaqueca uma delas. Segundo as estimativas da Academia Brasileira de
Neurologia, a enxaqueca atinge cerca de 18% da população brasileira. Para a
Organização Mundial de Saúde (OMS), este tipo de dor pode ser tão incapacitante
quanto a psicose ativa, a demência e a tetraplegia (²) e, conforme dados
do Ministério da Saúde, de 5 a 25% das mulheres e 2 a 10% dos homens têm
enxaqueca, com predominância em indivíduos com idades entre 25 e 45 anos, sendo
que após os 50 anos essa porcentagem tende a diminuir, principalmente em
mulheres. Ainda sem cura, a doença deve ser tratada de forma multidisciplinar e
multiprofissional.
A enxaqueca é um dos tipos
de cefaleia (dor de cabeça) e se caracteriza por uma dor pulsátil em um dos
lados da cabeça (dor de cabeça unilateral), latejante e a intensidade pode ser
de moderada a forte, com aura ou sem aura, episódica ou crônica. Do total de
pacientes estudados em um levantamento(³), 64% apresentaram enxaqueca
sem aura, 18% com aura e 13% com e sem aura. Os restantes 5% com aura sem
cefaleia.
Já a enxaqueca crônica é a
cefaleia que ocorre em 15 ou mais dias por mês, durante mais de três meses,
sendo oito dias com sintomas típicos de enxaqueca, ou seja, dor de cabeça
unilateral, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia), movimentos,
cheiros, sons (fonofobia), entre outros.
O fato de as pessoas não
saberem diferenciar as dores de cabeça episódicas (enxaqueca) daquelas
frequentes (enxaqueca crônica) pode dificultar o tratamento, a recusa em buscar
auxílio de um especialista. Por isso, em muitos casos, alguns indivíduos
ultrapassam a linha razoável da ingestão de analgésicos em razão da frequência
e intensidade da sua dor de cabeça. Daí para automedicação é um pulo e, no pior
dos casos, a tendência é agravar o quadro, até evoluir para uma enxaqueca
crônica.
Basicamente, existem três
tipos de tratamentos: medicamentoso, preventivo e complementar. Neste último
caso, enquadram-se acupuntura, alimentação equilibrada, melhor qualidade do
sono e prática de atividade física. No tratamento à base de remédios,
dependendo de cada caso, podem ser adotados medicamentos para cessar a dor,
como analgésicos e anti-inflamatórios. O preventivo, por sua vez, engloba medicamentos
orais (como neuromoduladores) ou injetáveis (Toxina Botulínica A), neste caso
indicado apenas para enxaqueca crônica. É importante que qualquer tratamento
tenha o acompanhamento de um neurologista.
Não existe uma causa
específica para a enxaqueca, mas sabe-se que são influenciadas pela genética,
desequilíbrio neuroquímico e também pela ativação de vias nervosas responsáveis
pela transmissão da dor para o sistema nervoso central.
Entre outros fatores,
existem estímulos externos que são gatilhos para as crises de enxaqueca.
Recentemente, um estudo(4) apresentou dados relevantes sobre o
estresse como desencadeador, entre eles, até os tais "aborrecimentos
diários". Na análise dos pesquisadores, o estresse representa um primeiro
passo para a previsão de ataques de dor de cabeça, ainda que não como um
“modelo” final para o uso clínico generalizado. Entre setembro de 2009 e maio
de 2014, os participantes do estudo sofreram um ataque de dor de cabeça em 1613
dias (38,5%), dos 4195 dias avaliados. O objetivo foi relacionar o estresse
para prever o risco de dor de cabeça. Ou seja, dado o aumento da atividade da
dor de cabeça, prever através da identificação da experiência estressante em
dias anteriores.
Outro estudo mostra que o
estresse danifica a memória e o sistema imunológico, desempenhando papel
fundamental no comprometimento da função cognitiva, conforme avaliaram
pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio (EUA) e publicado no “The
Journal of Neuroscience” (5).
Talvez isso explique
também os achados em um estudo realizado pela Universidade Federal de São
Paulo com 26 portadores de enxaqueca. Neste caso,
a enxaqueca foi apontada como “sabotadora” da capacidade de se
focar e se lembrar das coisas, pelo fato de abalar a memória (processar e
memorizar informações) e o raciocínio.
Embora na sociedade
moderna o estresse receba atenção especial no âmbito da saúde (psicológicas e
sociais também!), ele não é o único fator desencadeante de doenças. No caso da
enxaqueca, vale ficar atento a outros fatores, como alimentação e hidratação
irregular, sedentarismo ou atividade física muito intensa, sono desregulado e o
abuso de analgésicos, que geram o efeito rebote e acabam cronificando o
problema.
Confira o Infográfico
que disponibilizamos sobre as diferenças entre Enxaqueca e Enxaqueca Crônica.
Fontes:
(¹) Classificação
Internacional de Cafaleia. Terceira Edição (ICHD - 3 beta) – Tradução
Portuguesa 2014. [ acesso 2017 jul].
(²) Disponível em
htttp//:www.ihs.headache.org/binary_data/2086-ichd3-beta-versao-pt-portuguese.pdf
2. Menken M, Munsat TL, Toole JF.
The Global Burden of disease study: implication for neurology. Arch Neurol 2000
Mar.53 (3) 418-20
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