A psicóloga Simone Domingues explica como
formar adultos independentes e autoconfiantes
Crianças
costumam ser indefesas e ingênuas, por isso é natural os pais agirem de forma
protetora. Mas até que ponto essa atitude é benéfica? Segundo Simone Domingues,
professora de psicologia da Universidade UNG, o excesso de zelo pode acarretar
em sérias consequências na fase adulta.
Apesar
de dependerem dos cuidados e supervisão de adultos, Domingues explica que com
aproximadamente seis anos de idade os baixinhos já começam a perceber uma
diferenciação de pensamentos e opiniões entre as pessoas, iniciando o
autoconhecimento de suas particularidades. "Nesta etapa é essencial
promover momentos de liberdade, porque a medida que a criança enfrenta um
desafio sem os pais, haverá possibilidades de fazer acontecer, verificar seus
limites e perceber o quanto consegue dar conta sozinha. Isso é bom, porque ela
estará organizando sua personalidade e seu conhecimento sobre o mundo",
afirma Domingues.
O
problema é que muitos pais inibem esse processo, e em casos mais acentuados
esta coibição permanece até mesmo na adolescência ou juventude. Segundo a
professora, eles tomam este tipo de conduta por dois motivos, para manter o elo
afetivo por meio da dependência ou por subestimá-los. Em ambas situações, a
docente faz uma analogia com o uso de óculos que distorcem a visão da realidade,
porque independente do motivo, os pais se negam a aceitar que os filhos têm a
capacidade de observar seu entorno, criar suas próprias percepções e serem
protagonistas de suas ações. Sendo assim, Domingues afirma, "é importante
que os pais perguntem aos filhos o que eles acham, o que querem e ajudem a
solucionar seus problemas. Inclusive as crianças. É preciso desmistificar a
ideia de que elas não entendem, não prestam atenção ou que não têm
opinião".
A
psicóloga enfatiza que há diferença entre ajudar e solucionar. Por exemplo,
existem pais que não permitem que os filhos passeiem com a escola. Diante deste
cenário, Domingues acredita que os pais devem expor seus receios, explicar o
porquê desta insegurança e permitir que os próprios filhos sugiram como assegurar
a tranquilidade de seus responsáveis. Desta forma, eles ampliam o repertório de
vivência e interação, ao mesmo tempo em que estreitam a relação de confiança
com seus pais.
Quando
a independência dos filhos não é respeitada e é exercido um abuso da autoridade
familiar, eles podem se tornar adultos medrosos e dependentes, que sentem
dificuldade de se posicionar e enfrentar desafios, além de se considerarem
incapazes e necessitarem da aprovação dos outros, o tempo todo.
"Felizmente, o ser humano tem o que chamamos de
plasticidade, de flexibilidade. Porque ele aprendeu ou viveu de uma forma, não
quer dizer que ele não possa rever esse conceito". Domingues conta que se
a pessoa tiver oportunidades em seu caminho, ele pode superar essas
características enfrentando suas inseguranças, através de incentivos de outras
pessoas, como amigos, companheiros ou até mesmo chefes de trabalho. Em quadros
mais persistentes, é recomendável a ajuda de um psicólogo para auxiliar o
processo de superação.
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