Documento científico lançado na
última terça-feira (1º) pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) derruba
por terra um mito para pacientes e até profissionais da saúde: o de que todas
as mulheres com quadros de doenças bacterianas, parasitárias ou virais devem
interromper a amamentação para não contaminar o filho. De acordo com os
especialistas do Departamento de Aleitamento Materno da SBP, pensar dessa forma
é um erro, sendo que cada caso deve ser avaliado em função de suas
características.
A divulgação faz parte de um
pacote de ações coordenadas pela SBP com o objetivo de marcar as comemorações
do Agosto Dourado, um período de 31 dias, no qual a entidade quer sensibilizar
médicos e a população para os benefícios do aleitamento materno para mães e
bebês. Além desse trabalho, outros três estudos científicos serão lançados no
período. Para a presidente da SBP, dra Luciana Rodrigues Silva, é um tempo de
mobilização.
“Convocamos os médicos
brasileiros e todos que defendem uma saúde de qualidade para crianças e
adolescentes a apoiarem o aleitamento materno. Diariamente, durante o Agosto
Dourado, a SBP reforçará essa mensagem. Mas nossas ações em favor do
aleitamento não se limitarão a esses dias. Faremos muito mais, todos os meses,
pelo bem-estar de nossos bebês e das famílias”, exortou.
INFECÇÕES
- O trabalho “Doenças maternas infecciosas e
amamentação” mostra que a maioria das doenças infecciosas bacterianas maternas
não contraindica o aleitamento materno. Por exemplo, quadros de mastite e de
abcesso mamário não são considerados de infecções invasivas e, por isso, não
impedem a prática do aleitamento, que poderá ser mantido se o tratamento com
antibióticos for instituído e material drenado do abcesso não tiver contato
direto com a boca da criança. Já infecções mais graves, como meningite,
osteomielite e septicemia, exigem a interrupção temporária da amamentação por
um curto período (de 24 a 96 horas) após o início do tratamento.
Muitas mães quando estão com
doenças diarreicas suspendem a amamentação, o que não precisa ser feito,
segundo o Departamento de Aleitamento da SBP. A presidente do DC, dra Elsa
Giulianni, explica que, na verdade, os agentes que causam diarreias nas mães
podem ser importantes contaminantes externos, principalmente do leite materno
ordenhado. Ela acrescenta que doenças parasitárias, de maneira geral, também
não configuram impedimento à amamentação, pois não há transmissão de parasita
pelo leite humano.
Neste caso, a exceção conhecida
ocorre na doença de Chagas, quando o parasita pode contaminar o leite humano.
Para o Departamento, há evidências, entretanto, de que a infecção aguda no
lactente parece ter evolução benigna e a descrição de sequelas é rara. Logo,
informam os especialistas, a contraindicação da amamentação deve ser aplicada
apenas na fase aguda da doença.
TUBERCULOSE
E HANSENIASE - Em pacientes com tuberculose,
se a mãe foi tratada por duas ou mais semanas antes do nascimento do filho pode
amamentar sem qualquer restrição, mas a criança deve receber a vacina BCG logo
após o nascimento. Contudo, se a mãe for portadora da tuberculosa multidroga
resistente, que é uma forma mais grave da doença, a separação da criança do
contato da mãe deve ocorrer para evitar contaminação. Só que leite materno pode
ser ordenhado e oferecido à criança até a mãe estar curada.
Mesmo a hanseníase, doença que
assusta as pessoas, não indica necessariamente o desmame, dizem os
especialistas. Se a doença não estiver em fase contagiosa, não há
contraindicação para a amamentação. No entanto, o a criança de uma mãe
infectada pela doença deve ser submetida periodicamente a exames clínicos para
detectar precocemente possíveis sinais da doença, uma vez que é transmitida por
meio de secreções nasais e da pele.
DOENÇAS
VIRAIS - Por sua vez, as doenças virais
apresentam peculiaridades quanto à amamentação. As mais comuns - como febre
amarela, Influenza e infecção por herpes - não requerem o desmame. Diante
desses diagnósticos, as mães podem estar debilitadas e, neste caso,
recomenda-se a ordenha. Já no caso das hepatites A, B e C as precauções variam.
Enquanto a infecção pela
hepatite A não indica desmame, a hepatite B requer maiores cuidados, uma vez
que é transmitida pelo sangue, esperma, líquido amniótico, fluidos vaginais,
sangue do cordão umbilical e pelo leite materno. O Departamento explica
em seu texto que o maior risco de transmissão ainda é pelo parto, quando a
criança entra em contato com o sangue e secreções maternas infectadas. E alerta
que tem sido discutido, inclusive, a realização do parto cesáreo eletivo para
estes casos. Contudo, não há nenhuma recomendação oficial para uma cesárea
quando a única razão for a contaminação por hepatite.
VIRUS HIV
- Já no caso do vírus da imunodeficiência humana tipo
1 (HIV) é necessária cautela, porque pode ser transmitido de mãe para filho
durante a gestação, no parto e através do leite materno. A amamentação está
associada a um risco adicional de transmissão que pode chegar a 29% nos casos
de infecção aguda.
As condutas em relação à amamentação de mães soropositivas para
o HIV devem seguir as diretrizes de cada país. Desde 2010, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno para todas as mulheres
que vivem com HIV e fazem o uso de drogas antirretrovirais. Essa orientação se
baseia em evidências científicas de que o uso destas drogas pode reduzir
significativamente o risco de transmissão por meio do leite materno. Mas, no
Brasil, é contraindicada a amamentação para as mães soropositivas. Neste caso,
os recém-nascidos devem ser alimentados com fórmulas infantis.
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