Idealizadora do Programa "Ler é uma
Viagem" conta que não é preciso ler livros todos os meses para ser um “bom
leitor”
Segundo
a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada em 2016, o brasileiro lê,
em média, menos de 5 livros por ano, e 44% da população “não lê”. No entanto,
Élida Marques afirma que as pesquisas sobre leitura ainda estão em
desenvolvimento no país. “Nem sempre elas dão conta da complexidade que envolve
a questão”, afirma. A idealizadora do Programa “Ler é Uma Viagem”, que já
impactou mais de 35 mil crianças e 7 mil educadores, conta que a nossa relação
com a leitura é muito plural e diversa. “O ato de ler ajuda as pessoas a se
encontrarem consigo mesmas e seus processos subjetivos, para se orientar no dia
a dia, e até mesmo para se perder e se reinventar”, provoca Élida, que também é
mediadora de leitura e questiona a forma como muitas escolas lidam com a
leitura no Brasil, bem como a pouca quantidade de bibliotecas e acervos de
livros nos espaços públicos.
Mesmo
que as pesquisas sobre leitura sejam muito importantes, e sabendo que a prática
deva ser estimulada e mais valorizada, Élida Marques propõe um outro olhar
sobre ela. Por isso, aponta 7 mitos que devem ser quebrados sobre a leitura.
Mito
1: É preciso ler livros para ser leitor
Um
dos mitos muito comum da leitura é de que só é leitor quem lê livros. Segundo
Élida Marques, isso não é verdade. Ler revistas, mensagens no Whatsapp, textos
das redes sociais, placas do dia a dia e histórias em quadrinhos são leituras
tão importantes quanto a de livros. “Atualmente, passamos o dia lendo no
celular e não nos damos conta disso”, ressalta, lembrando que há diferenças
entre os tipos de leitura, e todos devem ser valorizados. “É importante ler
textos mais profundos que as mensagens de celular, mas a ausência deles não faz
de alguém um não-leitor”, resume.
Mito
2: Bons leitores leem sempre, o tempo todo
A
idealizadora do “Ler é uma Viagem” explica que um dos direitos do leitor é o de
não ler. “Uma pessoa, mesmo sendo leitora, pode ficar períodos mais longos sem
ler”, conta, destacando que o fato de alguém não querer ler por algum período
não significa que a pessoa deixe de ser leitora.
Mito
3: A linguagem escrita é a melhor de todas
Embora
seja essencial para a vida que vivemos atualmente, a leitura não
necessariamente precisa ser a forma de linguagem preferida de alguém. Élida
explica que não existe uma linguagem melhor que a outra. “Alguns vão se tornar
escritores ou grandes leitores, mas não tem problema nenhum em preferir outras
formas de linguagem, como audiovisual, teatro, música ou artesanato”, ensina,
citando algumas das formas como trabalha a leitura nas Oficinas do “Ler é Uma
Viagem”.
Mito
4: Os leitores precisam amar tudo o que leem
Segundo
Élida, nem sempre as pessoas devem apreciar a leitura que fazem, seja de um
livro, revista ou uma bula de remédio. “O prazer pela leitura depende do
contexto, do momento e de outros fatores”, explica. Desta forma, a leitura
nunca é uma experiência fechada, pois está sempre em relação dinâmica com seus
suportes e sujeitos.
Mito
5: Todo mundo deveria gostar de ler
Um
mito importante sobre a leitura que precisa ser quebrado é o conceito de que
todos deveríamos adorar ler, ou que os amantes dos livros são superiores. Élida
conta que é preciso parar de pensar assim para darmos um passo na forma de
encarar a leitura. “Todos nós temos o direito ao acesso à leitura e às
vivências no universo concreto e simbólico que ela oferece, mas cada um deve
definir se gosta ou não”, conta. “É triste que tenham pessoas que sequer
tiveram a oportunidade de se descobrirem leitoras”, pondera.
Mito
6: É necessário ler livros clássicos
Ninguém
é obrigado a ler com frequência, sequer a ler um livro inteiro, e muito menos a
ler clássicos. “Alguns clássicos são ensinados nas escolas porque fazem parte
do conteúdo de formação da nossa literatura, mas isso não significa que a
prática leitora precise estar atrelada ao acompanhamento destas obras”, conta
Élida.
Mito
7: As pessoas devem produzir algo depois de uma leitura
Por
fim, a idealizadora do Programa “Ler é Uma Viagem” desfaz um outro mito: o de
que é necessário fazer algo após uma leitura. “O ato de ler já é uma
experiência que vale por si própria, então não é preciso produzir alguma coisa
após terminar de ler qualquer obra”, explica. “Temos o direito de ler e nos
calar”.
O
Ler é uma Viagem é um programa de incentivo à leitura que, desde 2003,
desenvolve sessões de leitura com música ao vivo para estimular o prazer da
descoberta do texto entre crianças, jovens e adultos de todo o Brasil. Através
de projetos temáticos patrocinados (Hans Christian Andersen, Guimarães Rosa, e
agora, Dom Quixote), já realizou mais de 600 apresentações, atingiu mais de
7.000 professores e mais de 35.000 estudantes em escolas e bibliotecas
públicas.
O
Programa apresenta-se em diversos formatos, mas sempre pensados a partir do
conceito intimista de uma sessão de leitura compartilhada entre, no máximo, 60
pessoas. "O programa oferece um ambiente de imersão nos textos que
estimula a escuta, a identificação, a criatividade e também possibilita que os
professores compartilhem ferramentas pedagógicas para dar continuidade à
experiência com os alunos depois, em sala de aula", explica a idealizadora
Élida Marques. Neste ano o programa inaugurou uma Sala de Leituras em Itu/SP,
cidade sede do Ler é Uma Viagem, desde 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário