O psiquiatra
e pesquisador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA) do Hospital
das Clínicas da USP, Dr. Diego Tavares, conta que a irritabilidade ou agressividade
persistentes não são normais. E conta como diferenciar o ”pavio-curto” de uma
doença que precisa ser tratada.
“Geralmente
a irritabilidade é um sintoma patológico que ocorre em indivíduos com
depressão. É comum entre os pacientes com depressão predominar alterações de
humor do campo da irritabilidade: ficarem mais irritados, ranzinzas, 'chatos',
pessimistas, querendo ficar isolados. Já a agressividade, um estado de humor
muitas vezes confundido com irritabilidade, é diferente. Cursa com um estado de
humor que tende a raiva, briga, impaciência, intolerância e ”pavio-curto” e
quando estado de humor volta de tempos em tempos, isso pode sugerir
alguma alteração de humor do espectro da bipolaridade".
Mas
como diferenciar de um temperamento mais briguento e querelante? O médico
continua: "O temperamento é o componente emocional da personalidade.
Normalmente é estável, isto é, ocorre com regularidade, sem picos como o
transtorno do humor e não causa prejuízos e perdas à pessoa".
Os
estudos científicos já investigaram isso e mostram que a maior parte dos
cônjuges casados com um parceiro que depois recebeu o diagnóstico de
bipolaridade afirmam que não teriam se casado se tivessem a noção do quanto as
oscilações do humor do transtorno bipolar podem ser devastadoras para a
relação.
“Se o
portador de bipolaridade aceitar que tem um transtorno do humor e se
comprometer com o tratamento, que envolve psicoterapia e estabilizadores de
humor, é possível ter uma vida menos conturbada e sem crises mas do contrário
infelizmente as relações sociais e de relacionamento não vão pra frente porque
por mais que a doença dê uma acalmada de vez em quando, sem tratamento ela
sempre volta e a pessoa acaba descontando irritabilidade, impaciência e
grosseria no parceiro ou em outras pessoas que estiverem por perto. O que
acontece é que a maioria dos parceiros acha que um pouco disso é da
personalidade e que com o tempo o amor vai vencer e a pessoa vai mudar e se
tornar mais calma e amorosa. Mas, isso é ilusão! Quando se trata mesmo de um
transtorno do humor não melhora, volta mais tarde e às vezes pior”, complementa
Dr. Diego Tavares.
Aceitar
coisas como um transtorno do humor requer muita humildade, mas ao mesmo tempo
significa que os afetados não são más pessoas, que muitos daqueles
comportamentos são produzidos por um estado de humor alterado.
FONTE: Dr. Diego Tavares - Graduado em medicina pela Faculdade
de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de
Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e
Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos
do ABC (PRTOAB).
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